De fato, a tradição dos estudos sobre relações de raças no Brasil - especialmente sobre seu mais desenvolvido e importante capítulo, que se refere ao negro - esteve até hoje ligada à coleta de material etnográfico, antropológico e histórico sobre o processo de integração do africano ao Brasil, especialmente sobre o que há de bizarro, de exótico, anedótico e diferente nesse processo; pouco ou quase nada existe de sério sobre o estudo sociológico do processo de integração do negro brasileiro à sociedade brasileira, problema que continua quase virgem no fundo do nosso laboratório social e que vive hoje, nas comunidades urbanas e industrializadas do Sul do País, etapas decisivas de seu desenvolvimento.
Em face desses precedentes, e da atitude pessoal o metodologicamente clara e definida que dentro deles havíamos sempre mantido, quando fomos honrados com o convite do Professor Métraux para dirigir a parte da pesquisa que se realizaria na Capital do Brasil - sentíamo-nos perfeitamente à vontade para abordar a análise das relações entre negros e brancos no Rio de Janeiro do ponto de vista que julgávamos devia o problema ser cientificamente abordado.
No primeiro esboço do plano destas pesquisas - que entregamos ao Professor Métraux em dezembro de 1950, em Salvador - os objetivos do nosso trabalho no Rio de Janeiro já estavam perfeitamente explícitos e não sofreram alterações de contendo em consequência do trabalho de campo que, de resto, só serviu para nos convencer da validez das premissas metodológicas ali estabelecidas.
Partimos da verificação de que os estudos sobre o negro no Brasil quase que se limitaram, até hoje, a encarar o negro como um espetáculo - para usar a feliz expressão do escritor Sérgio Buarque de Holanda - no