Talvez se fixasse, na lembrança do velho, um momento do seu passado. Passado longínquo, de 40 anos. Via-se em Bueno Aires, na corte de Palermo. Mas, já sem o prestígio dos seus primeiros tempos de ministro residente. Ardia em febre, a delirar e a gemer. No seu braço direito já se divisavam sinais nítidos de gangrena. Então, o cavalheiro Sinimbu, do outro lado do estuário, desconheceu o bloqueio, atirando desajeitadamente a luva ao ditador Rosas. O que surgiu de tudo isso refletiu unicamente no ministro em Buenos Aires. A ameaça, o revide, a luta; de nada disso soubera Sinimbu. No entanto o defendera ele, Ponte, quando, numa nota, lhe chamara de estúpido o ministro Arana. Assim, em risco de perder o seu cargo ou de prejudicar a sua carreira, expondo à vida aos ódios cegos da mashorca, ele, Ponte Ribeiro, agora velho, trôpego e desprezado, saíra a campo, e replicara ofensa por ofensa. Dessas recordações de Ponte, nasceu, com certeza, a impossibilidade de uma explicação entre o diplomata e o presidente do conselho, que desvanecesse a suposição daquele de que pretendesse o governo imperial diminuí-lo ou magoá-lo. Fora medida de caráter geral em ordem a execução de uma lei.
O velho Barão da Ponte Ribeiro voltou ao seu solar da rua Bambino. Nada mais lhe faria olvidar o suposto agravo. Esmoía o passado e comparava-o ao presente. Nessa luta íntima ficou ainda durante uns meses, a definhar-se aos poucos, em agonia lenta. E tudo porque concluíra daquele suposto agravo já não necessitar a diplomacia brasileira dos seus serviços. Isso o ferira fundo e definitivamente. No domingo, 1 de setembro de 1878, aos 83 anos de idade, afinal, foi vencido o Barão da Ponte Ribeiro pela velha inimiga do cirurgião Duarte, daquele tempo