A timidez parece que é temperamento. Parece não, é de fato. Um temperamento. Machado de Assis em tudo mostra temperamento desse feitio. João Ribeiro refere que o autor de D. Casmurro, quando tinha alguma anotação mais viva e irreverente a contar, precedia-a sempre de uma fórmula evasiva de apresentação. E era assim que contava o caso: "Uma senhora de meu conhecimento relatou-me..." Barbosa Lima Sobrinho, resumindo suas observações, sintetiza muito bem: "todas essas manifestações - o pudor dos sentimentos, a modéstia, a moderação, a sobriedade, o ceticismo - tudo isso concorre para nos dar a impressão de timidez. Mas será a timidez a mesma coisa que a modéstia, a moderação, a sobriedade, o pudor dos sentimentos ou cada uma dessas qualidades vem concorrer para um conjunto, que será menos um predicado que um temperamento?" ("A timidez de Machado de Assis" - conferência publicada no Estado de S. Paulo).
Assim, conclui o escritor, "quando atribuímos Machado de Assis frieza, egoísmo ou indiferença, podemos estar certos de que ainda não começamos a entendê-lo".
De que era criatura sensível, além dos fatos apontados, podemos aduzir mais o que foi contado por Raimundo Magalhães Junior, em artigo do Diário Carioca, em maio de 1936, e que vem também no livro de Lúcia Miguel-Pereira. E assim se deu. Durante a enfermidade de Carolina, uma jovem de família modesta, vizinha de Machado, revelou comovedora dedicação à doente. Foi enfermeira admirável. A gratidão do escritor por esse ato da moça foi tão intensa, que começou a afagar a ideia de protegê-la. Viúvo, sem herdeiros necessários, teve o intuito de deixar-lhe o montepio. Qual o caminho único, para isso? Só podia ser o casamento sem ridículo, isto é, na hora extrema, se lhe fosse possível. Bernardo de Oliveira, seu companheiro