como funcionário do Ministério, homem probo, seu amigo íntimo, ficou encarregado, sob o mais absoluto sigilo, de preparar os papéis para o ato, logo que Machado achasse oportuno. Casamento de formalidade, só para efeitos jurídicos de herança. Diz o jornalista que Bernardo de Oliveira pode confirmar o fato, e é ele homem de bem.
Estando o autor de Quincas Borba em artigo de morte, seu amigo teve que se ausentar do Rio. Antes de morrer, sentindo a aproximação do fim, Machado, guardando o leito, perguntava sempre, com ansiedade:
- Onde está o Bernardo? Já regressou? Preciso falar com o Bernardo...
Faleceu, afinal, sem poder realizar o que planejara.
Parece que a vida desse homem foi sempre presidida pelo signo do mistério ou da dubiedade. Não se pode saber se queria ou não tornar efetivo o desejo expresso de modo sigilar. A intenção nele ficava, em regra, encoberta nas dobras da secretividade. É por isso que também a crítica que se lhe faz há de revestir-se de dubiedade, por mais peremptória que pretenda ser. E com esse feitio, exerceu ele, algumas vezes, a análise de livros, como o fez com os homens e com os tipos que ideou. Foi mesmo pela crítica e pela poesia que estreou nas letras, escrevendo poemas sentimentais e as observações interessantes de O passado, o presente e o futuro da literatura, aos dezenove anos de idade. Em tal especialidade, era desimpedido de princípios de escola ou de sistema, tendo por norma o gosto, com o só fito de estudar as obras em si mesmas. Veríssimo classifica-o de crítico impressionista, e de fato nada mais fazia que fixar as impressões das leituras feitas. Nada concluía afirmativamente e punha, de ordinário, algumas ressalvas nos elogios.
É preciso notar que, neste ponto, é relevante a sua honestidade mental, dizendo mesmo a amigos íntimos