Machado de Assis, o homem e a obra – Os personagens explicam o autor

político e jornalista militante na Atualidade, ao lado de Lafaiete Rodrigues Pereira e Flávio Farnese.

Machado de Assis travou relações muito íntimas também com Ramos Paz e Manuel de Melo, dois bibliófilos e filólogos de algum valor. Concorreram certamente para que apurasse o gosto e pendor para os estudos clássicos, para a leitura dos bons autores portugueses. Talvez tenha sido por esse tempo que haja iniciado a leitura aturada de Camões, Sá de Miranda, Bernardim Ribeiro, Filinto, Bernardes e Frei Luiz de Souza. Dessas leituras o vinco profundo que permaneceu é de caráter camoniano. Em muitas partes do estilo de Machado se percebe bem visível a marca de Camões. Machado frequentava, então, com assiduidade, o Gabinete Português de Leitura, tomando notas durante o estudo dos mestres da língua. Ali se encontravam os três amigos, animados dos mesmos zelos e cuidados. Tais notas guardam-se nos arquivos da Academia de Letras.

Parece que Ramos Paz e Manuel de Melo tiveram ascendência decisiva na feição clássica do estilo de Machado de Assis. Manuel de Melo, que era guarda-livros, possuía uma biblioteca clássica preciosa. Escreveu uma obra: Da Glótica em Portugal, que, por haver morrido o autor, foi completada e publicada por Francisco Ramos Paz.

Cumpre dizer que o autor de Helena, apesar de haver-se engolfado, desde moço, na leitura de clássicos, não se deixou dominar pelo espírito conservador. Salvou-o o gosto artístico, muito fino, que possuía. Soube retirar dos autores o que havia justo, viril e virtual na linguagem deles. O cunho pessoal de seu estilo não se perdeu no arremedo ou na imitação. Sempre preservou a simplicidade cristalina da palavra natural. Elaborava-se com a força irredutível de sua personalidade o caráter literário, que o marcou em nossa literatura.

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