não o temperamento de crítico. Foi ele próprio quem o declarou. A crítica é uma feição da energia humana. Assim como alguns homens são dotados de temperamento para a ação, outros o são para a clarividência. Gostam de ver certo, de buscar a verdade, tanto na direção destrutiva como construtiva. A ação é movida pelo espírito político, a crítica pelo espírito científico. Uma conduz os semelhantes, outra os orienta. A ação e a crítica exercem-se nos postos de comando, que são posições de combate. Machado de Assis sabia ver claro, mas não tinha o gosto de dizê-lo ou a pugnacidade de dizê-lo. A sua crítica é dissimulada. Está nos romances, está nos contos, está nas crônicas. Se não a exerceu militantemente, foi por ceder ao temperamento, foi para evitar controvérsia. Mas não por falta de finura e competência. O pouco que disse foi sempre certo.