Machado de Assis, o homem e a obra – Os personagens explicam o autor

homem se compraz com a cena de humour, seja na prosa, na peça teatral ou seja na vida. Não provocando isoladamente nem riso, nem emoção, seu efeito é o sorriso, que é logo convidado a recolher-se. Está aí uma de suas singularidades, tomado pelo resultado. Portanto, diferença-se ou se distingue tanto do cômico, quanto do dramático, tendo, porém, uma certa dose de qualquer dos dois. Parece-se um pouco também com a sátira, porque há, no humour, algum elemento de revolta. Três estados, pois, que o integram, mescladamente: comicidade, emoção, revolta, parecendo que nenhum predomina sobre os outros. É uma espécie de mistura de todos os três. Assim, é de supor que o humorista guarda consigo um cômico frustrado, um lírico que falhou, um satírico, que não evoluiu. Humorismo é fenômeno complexo, complexidade de inteligência e de sentimento.

O humorismo não possui, por outro lado, finalidade definida. Não se sabe o que o humorista quer. Visa o cômico nitidamente a provocar riso, gargalhada gostosa. O satírico, por sua vez, mira positivamente a corrigir os costumes e homens, com apontar-lhes defeitos. É o ridendo, castigat mores. Corrigir, rindo. Põe o dramático fito no desejo de provocar a emoção. E o humorista? Que quer o humorista? O humorista não tem finalidade definida. Ser humorista não é propósito, mas sim temperamento, que se prende, por certo, com a fisiologia do indivíduo. Nasce o homem humorista ou a vida o faz humorista, como se nasce bilioso, fleumático ou imaginativo. É um caráter.

Se ele não tem finalidade, qual é a conclusão que se deve tirar de sua atuação? Não há como negar que seja, da parte do público, a incredulidade. O humorista é incrível. Ninguém acredita nele, não desperta fé, não agremia homens, não faz discípulos. Não convence.

Machado de Assis, o homem e a obra – Os personagens explicam o autor  - Página 446 - Thumb Visualização
Formato
Texto