E isto porque não é argumentativo, nem emocionante, nem convicto. Não tem crença, não provoca crentes.
Por que é, então, que se apreciam humoristas? Parece que é por causa do prazer reversivo. É devido ao enjoo dos homens, da vida, da fé, da luta, da esperança e da ilusão. É um convite para a revolta desiludida. Há na criatura humana aquele espírito impassível da criança e do anormal, que se delicia com o instinto minucioso da destruição, com o instinto sádico de analisar, de desmanchar, de pulverizar. É o desejo de aniquilar o homem, com as suas ambições, no anonimato insondável do cosmos. Uma atitude que não se modifica no humorista é a indiferença, ligando-o à da natureza, que não ouve, sob as rodas invisíveis de sua força transformadora, o gemido de suas vítimas. Até o mesmo sábio, ao descobrir-lhe as leis, se torna humorista, na solenidade de enunciá-las; nada se cria, nada se perde na natureza.
É tal indiferença, marcadamente de feição antissentimental, em face dos homens e de suas ações, como também na maneira de interpretá-los, que isola o humorista no domínio da literatura. Não deixa de ser manifestação de maldade e como que fator de insociabilidade, uma vez que o distintivo por excelência de sociabilidade, na natureza humana, não há dúvida de que é ser piedoso. Nada o comove, pelo menos na aparência; ao revés, delicia-se com o sofrimento do homem, com todas as demonstrações de sua impotência. O trágico existente no ato de viver, ele o expõe de modo isento ou plácido. Tudo isso leva a crer que o humorismo seja a significação mais sutil e talvez mais penetrante da inteligência. Humorismo é só inteligência, compreensão, raciocínio, quase sempre sui generis. O humorista faz tábula rasa da experiência como das ilusões, convertendo-as a seu temperamento, a seu ângulo visual. E isto é de maneira tal, que a repercussão dos acontecimentos