Machado de Assis, o homem e a obra – Os personagens explicam o autor

Mas é que Pedro Lessa, apesar de eminente juiz, era sobretudo advogado, tinha o calor e vivacidade do causídico em peleja. Nesta questão, a virtude, vale dizer, a própria verdade está no meio-termo. Está mesmo mais do lado de quantos asseguram que a obra literária de Machado não reflete nem as questões, nem os problemas sociais e políticos da época. Assim, a apreciação do grande juiz a respeito do valor político do pensamento de Machado de Assis é um tanto exagerada. O fino prosador não possuía credos assentados ou teorias firmes nesta espécie. A Sereníssima República, página citada por Pedro Lessa como cópia de filosofia ou corpo de doutrina, não é mais do que trecho de humor ou mesmo de sátira. Pode dizer-se o mesmo do Alienista. O analista, o sarcasta descobria o ridículo, a falha e a inocuidade das instituições, que nada exprimiam de real, de vivo ou espontâneo. Quando muito, essas páginas se podem catalogar como opinião de pensador objetivista. Isto, sim. Mas não são absolutamente convicções políticas. Estas nunca as exprimiu claramente Machado de Assis, nem como homem, nem como escritor. Não as tinha.

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