CAPÍTULO III
Tu só, tu, puro amor.
"Os seus cabelos brancos, colhidos com arte e gosto, dão à velhice um relevo particular, e fazem casar nela todas as idades." Machado de Assis
Até aos trinta anos, até 1869, a existência de Machado de Assis não teve estabilidade. Mudava sempre de ofício. Entregava-se mais ou menos à boêmia do tempo, em companhia dos amigos, se bem que nunca descurava quer os estudos, quer o trabalho, qualquer que fosse. Percebia-se que uma ambição bastante definida lhe guiava o labor. Frequentando teatros, escrevendo para teatro, convivendo com atrizes, declamando versos em saraus, entregando-se, com os demais rapazes, aos hábitos dissolventes do namoro, não lhe saía, entretanto, da mente o desejo de sobressair pela cultura, pelas virtudes positivas, pela correção moral. Compreendia, é o que parece, que as suas condições eram diferentes das de seus companheiros, os quais todos se faziam notar pelo tom da elegância social e política. Ele sempre se achegou à gente de linha moral, à gente que possuía prestígio na sociedade. É que visava a subir, desejava dominar-se, galgar terreno, vencendo, pelo próprio valor, a humildade de origem. Foi este o ritmo constante de toda a sua atividade. Não perdia tempo. O caminho seriam as letras. O artista que existia nele foi o homem que venceu. Foi sempre cioso da personalidade que queria criar e criou. A segurança de tal critério