IV
AS TEMPESTADES DE 1848
Uma onda revolucionária apertava, na maré de aflições e incertezas, a burguesia encastelada da Europa, naquele ano inquieto de 1848.
As nacionalidades depois do freio implacável da Santa Aliança, por algum tempo reprimidas em seu surto de criação e liberalismo, repontavam dessa vez mais experientes e pujantes.
Enquanto a Itália lutava às portas do êxito para deixar de ser uma expressão geográfica, segundo a frase de Métternich, as ideias incendiárias ganhavam alento para do solo francês transporem o Reno, contaminando as planícies férteis da Alemanha hierarquizada.
A fogueira era grande e a lenha inesgotável.
Luis Felipe, o soberano tão popular, filho do Felipe Egalité das aclamações, vira o seu trono fugir diante de si a perder de vista, por causa de um banquete público proibido no bairro de Sant-Marceau. O medo da agitação "que fomentam as paixões inimigas e cegas", como dissera em sua fala do trono, realizara a sua obra.
Proudhon, que considerou essa revolução "sem ideia diretriz", exultava no entanto com a presença de causas sociais no movimento. Cabet e Luis Blanc, de um comunismo puramente idealista, tinham seduzido a elite operária.
É ainda nesse ano que em Londres sai dos prelos o famoso Manifesto comunista de Karl Marx e Engels.