O Brasil e o colonialismo europeu

todas as bênçãos do céu, fertilidade, clima, equilíbrio de meios de vida, configuração topográfica favorável e comunicações fáceis, motivo de superioridade dificilmente admitida pelos menos bem aquinhoados. Tal desigualdade nos foi imposta pela sábia natureza que nem sempre é fácil alterar. Seria o mesmo, caso contrário, altear-se o homem a semideus e enveredarem nações pela senda em que utopias se tornariam realidades, fato destacado por Marx quando profligou a crença em perfeições, professada por espíritos exaltados em teoria política.

Rebela-se, porém, o homem contra a fatalidade. Recusa-se a admitir o inelutável, que qualifica de injustiça. Giram, daí, as suas maiores paixões, as mais longas e tirânicas de sua vida, que o acompanham do nascimento à morte, em torno de problema criado pela sua inteligência, motivo de na Europa, desde a noite dos tempos, jorrar continuamente sangue em lutas de conquista, processadas de casa em casa, castelo a castelo, cidade a cidade, nação a nação, porfia mais tarde desdobrada em "colonialismos" recrudescida pelo surto dos descobrimentos marítimos. Daí o mito da superioridade, a razão dos esforços para consegui-la e a permanência da utopia imanente. Do balanço das aquisições registadas no campo político no século XIX, do exame do que nos proporcionou de bom e de mau, vemos ressaltar dominante no seu decurso a ideia nacionalista sempre presente e absorvente. Poreja em tudo, na atitude e nas propensões das gentes. A grande revolução francesa, seguida das guerras napoleônicas, prepararam o terreno onde deviam vicejar teorias de caráter nativista em nossos dias. Imperialismos, nacionalismos, chauvinismos e colonialismos, sucederam-se e se avolumaram até desencadear calamidades de ordem universal, que tudo subverteram, para deixar o que havia de pior no mundo antigo, fautor mor de todos os males presentes, passados e futuros.

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