O Brasil e o colonialismo europeu

de raças díspares. Edulcorou-se entre nós a fatalidade em virtude do ensino desses homens nunca assaz louvados, que pelo esforço lograram esmaecer a tragédia do tráfico, a maior de todas transplantadas para a América. Na gleba brasileira desde os alvores do povoamento, o escravo, contrariamente ao que sucedia nas outras possessões europeias, não era considerado besta de carga, mas ente humano como o seu dono e senhor. Vivia o africano no Brasil em ambiente moral, preocupados os responsáveis pelo seu procedimento em lhe subministrar preceitos da mais sublime crença aparecida no mundo, assim como existência materialmente superior a de muito europeu livre da época. O quadro era tão assombroso que certa vez no Recife um irlandês, a caminho de ergástulo britânico no Oriente, a considerou melhor que a de seus conterrâneos sob guante vitoriano na Irlanda.

Apoiado no braço negro, estimulado pelo capital judeu, progrediu o agricultor brasileiro até as vésperas da invasão holandesa. O auxílio que recebia do cristão-novo era de tal porte que o governo luso impôs ao supercilioso Santo Ofício, a obrigação de fazer vista grossa sobre os deslizes perpetrados pelos neoconversos na colônia contra a crença oficial da monarquia. Muitas vezes exprobaram governadores os prejuízos causados aos colonos por judeus onzeneiros estabelecidos no nordeste. Pintavam-nos como ávidos Shylocks, avantesma do laborioso cristão-velho de velha cepa portuguesa. "Fora o governo metropolitano forçado a ordenar não mais permitisse Mem de Sá ações judiciárias de cobrança sem preliminar exame, tantas queixas chegavam ao reino sobre exações do gênero cometidas pelos mercadores judeus da colônia".(1) Nota do Autor Aproveitavam-se os incriminados da sofreguidão dos povoadores lusos, em querer

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