escravidão reinante no seu habitat, intensificou a produção do solo, que por sua vez, criou recursos a permitir aquisição de mais negros e consequente alargamento da "mancha de óleo" em torno de núcleos econômicos em formação. Auxiliou igualmente o português na paz e na guerra, no arrotear a gleba e em defendê-la, mas suscitou o aparecimento de novo problema.
Organizado logo depois do descobrimento do Novo Mundo, o tráfico negreiro carreou verdadeira multidão de um para outro lado do oceano. Aquele caudal sem fim, a correr ininterrupto entre as duas margens do Atlântico, dia a dia engrossado pelo aumento da produção americana e aperfeiçoamento da técnica predatória africana, acentuava a desproporção do número de escravos e dos senhores. Simultaneamente tornava mais complexo o funcionamento das fazendas. Os escravos eram antigos guerreiros, muitos dos quais muçulmanos de índole belicosa, cujo momentâneo revés de fortuna nos combates em que tinham perdido a liberdade não desmerecia a intrepidez. Fácil imaginar a ameaça por eles constituída, quando adensados no mesmo sítio, dirigidos por alguns brancos no ermo de léguas entre cada propriedade, formavam densas legiões de indivíduos ainda por civilizar, tornados cruéis pela sua adversa condição. O angustioso passo, em aparência sem solução satisfatória para colonos povoadores, foi, no entanto, resolvido da melhor maneira possível pelo missionário católico, protetor do índio, doutrinador do negro e educador do branco. Graças ao jesuíta, brilhantemente assessorado por franciscanos, beneditinos, carmelitas e clérigos regulares — heróis anônimos de gigantesca empresa — manou condição ímpar para o Brasil. Tornou-se um privilegiado entre possessões europeias ultramarinas, a constituir terreno favorável à marcha do progresso, decorrida sem choques letais, num conjunto modelar para nações neolatinas, principalmente no sentido da convivência