A Bahia e as capitanias do centro do Brasil (1530-1626). História da formação da sociedade brasileira. Tomo 3º

Na história da Idade Média numerosos conflitos surgiram pelo desejo de manter a todo o transe a pureza do credo. O movimento cátaro e mais esforços no sentido da renúncia dos bens, predomínio do amor mútuo, e obediência a preceitos divinos, culminavam na formal condenação de riquezas acumuladas nas mãos de uma só pessoa. As imprecações dos franciscanos contra os gananciosos, acompanhados por elementos de outras ordens religiosas, levantaram escarcéus que por várias vezes pareciam levar a Igreja à beira do abismo. Provinham estes excessos, do ponto de vista julgando indissoluvelmente ligado o desprezo pelas riquezas às manifestações de solidariedade humana. Segundo a vontade do Senhor, o homem devia trabalhar para o seu sustento e liberalizar o excedente aos necessitados, tal como procediam as ordens monacais donas de estabelecimentos agrícolas. Antecipavam, em uma palavra, as doutrinas modernas com pretensões a monopolizar esta solidariedade de forma nunca dantes ideada, quando não passam de arremedos do que de há muito se tentou — nihil nove sub sole — visando estes mesmos desígnios, se bem a poder de processos menos cruentos e elevação incomparavelmente maior nos princípios.

Começado o século XVII a Igreja católica se viu obrigada a admitir certas circunstâncias heterodoxas, posto continuasse a condená-las de acordo com as ordens mendicantes, franciscanas e outras, ao contrário do engenhoso modus vivendi de seitas protestantes, que os elaboravam para conciliar a consciência cristã com os imperativos materiais da época. Remanesciam, sem dúvida, inteiriças no homem europeu; cristão de qualquer credo; velhas disposições hebraicas, em matéria sexual, mas no campo de atividade produtora o seu desenvolvimento aos poucos o libertou de peias antigas e pôde dar largas a sua iniciativa, contentando-se o catolicismo em recomendar, não a justificação da mercancia como os protestantes, mas o desdobramento

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