A Bahia e as capitanias do centro do Brasil (1530-1626). História da formação da sociedade brasileira. Tomo 3º

Joana o importunara como fora dito, recorrendo a dádivas para que no pecado "fosse ele Duarte macho, no qual ele nunca consentiu e lhe disse que era caso de os queimarem". Respondeu-lhe o Joane que também Francisco Mani Congo, negro de António sapateiro, praticava o nefando com vários negros e não o queimavam. Denunciou-o então Duarte aos padres, que dele se livraram vendendo-o a um senhor de engenho, sem resultado, porém, pois ele continuava sem se emendar, "ainda despois de vendido o persegue e busca com dádivas e o comete para o dito pecado nefando, e ele não quer consentir". Essas práticas por parte de negros angolanos são confirmadas por missionários como Fernão Guerreiro quando estiveram em Angola, mais ou menos no mesmo período dos depoimentos supra. Na Relação Anual de 1609 diz o sábio jesuíta: "Acharam os padres por aqui muitos a que chamam chibados (ou chibandos), que são grandíssimos feiticeiros, e sendo homens andam vestidos como mulheres, e tapados de contínuo (embuçados): assentam-se como mulheres, e faliam como mulheres, e tem por grande afronta chamarem-lhes homens: tem marido como as outras mulheres, e no pecado mau são os mesmos diabos".

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Acresce ainda um pormenor no caso, que nos leva a outro elemento das últimas camadas sociais da colônia, que eram os índios. O nome Joane era muito comum entre escravos de qualquer cor; acobreados ou pretos; de sorte que, por coincidência, ocorreu repetição do episódio em circunstâncias mais ou menos parecidas. O "anzoleiro" (pescador) João Fernandes tinha em 1583 na ilha da Maré um escravo índio brasílico de nome Joane. Lá também havia outro de nome Duarte, ambos mancebos entre 20 e 25 anos de idade. Deixava muito a desejar

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