cristãos impressos tanto na alma de vencidos como de vencedores, portugueses ou flamengos, católicos ou luteranos. Os escrúpulos que encontramos nos mercadores católicos das feitorias das Flandres, alanceados pela suspeita que o lucro da mercancia seria ilícito segundo a religião, repetiam-se entre capitalistas de Amsterdam ou Roterdam, quando pretendiam abandonar a W. I. C. por julgarem seus métodos em desacordo com a ortodoxia do credo protestante. Teria sido essa relutância a causa dos incorporadores encomendarem ao famoso Grotius o trabalho que escreveu sobre a liberdade dos mares, esteando em argumentos jurídicos a agressão armada contra o comércio das nações ibéricas, a fim de lhe dar uma aparência legal. Admitia o direito internacional da época, por consenso unânime, que regiões desertas pudessem ser ocupadas por potências marítimas, como sucedera no Maranhão, onde La Ravardière reclamou indenização dos portugueses por o terem expulsado da ilha de São Luís. Mas este não era o caso da Bahia. O assalto contra o Salvador era pura pirataria, a ponto do próprio Almirante Willekens demonstrar constrangimento, envergonhado pelo saque da cidade. Tratou logo que pôde de sustê-lo, condoído pela sorte da laboriosa população vítima da inqualificável cobiça da W. I. C. Composta de inocentes como os burgueses da Holanda, que fazia pouco deixara na sua Pátria entregues aos seus afazeres habituais, no entanto, tinham sido os baianos expulsos de suas casas, roubados e espoliados, brutalmente atirados à miséria. Segundo Fr. Vicente do Salvador, concluída a tarefa militar, manteve-se o almirante a bordo, nada querendo dos despojos dos vencidos, antes, procurava valer-lhes na situação, mostrando com tais manifestações possuir a verdadeira grandeza do homem de guerra, destemido na luta e humano na vitória.
O sucesso da W. L. C. foi de pouca dura. Pode-se quase dizer que perdeu a Bahia com a mesma facilidade