A Bahia e as capitanias do centro do Brasil (1530-1626). História da formação da sociedade brasileira. Tomo 3º

relíquias, fizeram depósito para a frasqueira, servindo o resto do colégio de alojamento para os mercadores chegados com a armada. Tornara-se, destarte, lícito aos jesuítas dizerem, como Jesus a respeito de sua casa, "vos autem fecistis speculam eam latronum". Na conjuntura, eram os jesuítas particularmente visados pelos flamengos, que antecedendo os escritores do século XIX lhes atribuíam todos os malefícios possíveis imagináveis.

Certa vez perguntou o Almirante ao Padre Domingos Coelho se costumava ouvir à noite estrondos no colégio segundo se queixavam os novos moradores, e como o jesuíta negasse, afirmou Willekens aquilo significar na sua terra a existência no sítio de algum grande tesouro oculto. O reparo decorria da fama de imensamente rica a Companhia de Jesus, reputação que se avolumou com o tempo, e talvez motivasse as perseguições de Pombal contra a Ordem. Um dos mercadores holandeses aboletados no colégio, indivíduo provido da alta cultura a que o seu país tinha chegado, costumava procurar o Padre Coelho para ambos conversarem em latim. Nessas palestras explicava que o ódio contra os inacinos por parte dos batavos provinha deles saberem muito e através os conhecimentos desenvolverem ativa propaganda para lançar os príncipes católicos contra os protestantes. De nada adiantou a refutação do jesuíta, que citou o decreto da suprema direção da Ordem, proibindo semelhantes enredos sob as mais graves penas. Continuou o mercador na sua persuasão, assim como os companheiros, que colocaram na antiga capela dos noviços um quadro a representar o Duque de Alba (o castelhano que eles mais abominavam) com um diabo no chapéu, mandando matar a muitos flamengos, e os jesuítas com foles a lhe instigar a ferocidade.

Na situação, a despeito de cobiças, rancores e prejuízos, nem tudo era sombrio. Em meio da violência inevitável em casos parecidos ocorriam lampejos de velhos sentimentos

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