Gonzaga e a Inconfidência Mineira

As suas amizades, sobretudo, o perderam. O ódio, aliado do espírito de vindicta, acabou por triunfar sobre a sua inocência, dando-lhe uma auréola por ele recusada tenazmente. Foi vítima de uma justiça demasiado rigorosa, que lhe deu uma glória, não pretendida por ele - a glória dos mártires, para a qual não tinha vocação alguma... O tempo tem, decorrido sobre essa falsa glória. Os escritores menos informados vão-na confirmando despreocupadamente enquanto outros, mais ciosos das suas responsabilidades, ou dela duvidam honestamente ou honestamente lhe negam a procedência. É o mesmo que sucede às liras: enquanto uns afirmam serenamente que elas nada refletem do Brasil, senão um amor que o acaso fez o poeta encontrar aqui, outros, numa demonstração extraordinária de malabarismo crítico, descobrem nelas uma estonteante brasilidade!...

Melhor será que cultuemos a memória de Gonzaga doutra forma. Enterneçamos-nos ante o seu desventurado romance de amor. este sim, é brasileiro, por ter-se passado aqui com uma patrícia nossa, tão desventurada quanto ele neste particular. Honremos-lhe o nome de poeta árcade, como expressão dos maiores da língua na sua escola literária.

Rendamos-lhe o mesmo culto que rendemos a Camões, a Bocage, a Antero de Quental, vates lusos que até hoje nos encantam e nos fascinam. São culminâncias literárias, que portugueses e brasileiros devem olhar com muito carinho e conservar como preciosidades.

Mas, em homenagem aos que realmente foram inconfidentes e de fato esboçaram e quase estabeleceram a "cabeça-de-ponte" da nossa independência política;

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