Gonzaga e a Inconfidência Mineira

um resultado satisfatório daquilo em cujo êxito ele não cria muito. Foi um simpatizante, cauteloso, astuto, como quer o seu melhor biógrafo, se chegou a tanto. Mas, aquilo em que cremos realmente, aonde chegamos, conduzidos pelos Autos de Devassa, é que Gonzaga, embora admitisse as possibilidades da libertação e independência de Minas, não a desejou, visto como o seu real interesse era a pacatez da sua vida de magistrado, o casamento com Maria Dorotéia, a quem prometia um lar sossegado, onde a teria sentada a ler perto dele, enquanto despachasse processos submetidos ao seu juízo. Este, o ideal refletido na sua poesia. Se outra cousa houvesse escrito, figuraria entre as peças do processo, como alicerce da sua culpabilidade, como sucedeu a Alvarenga, que teve uma ode incluída nos Autos, para provar suas intenções delituosas.

"As naturezas poéticas, por serem as mais irritáveis, escondem com mais dificuldade do que outras os vestígios da passagem de uma, paixão qualquer. As liras não podiam deixar de se impregnar do calor revolucionário e trair as devastações da alma do Inconfidente, se êle tivesse sido com efeito o diretor de uma intriga, o manejador de outras almas, através do tufão anti-monárquico" - escreveu com muita propriedade Araripe Júnior. Dai a conclusão do ilustre cearense, oposta admiravelmente ao juízo do Snr. Getúlio Vargas: "A nulidade do papel político do poeta e a influencia negativa do movimento sobre seu estro provam-se, entretanto, reciprocamente."

Gonzaga não foi inconfidente. Foi acusado por vingança dos seus inimigos e o concurso das circunstâncias impediu-o de defender-se proveitosamente.

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