CAPÍTULO I
PAULIN OU PAULINO?
1
O arraial de Paracatu, ao terminar o século XVIII, festejava a sua ereção em vila, pelo alvará do Príncipe Regente, de 20 de outubro de 1798. Fora imponente a cerimônia. A nobreza, o clero e o povo, incorporados, compareceram às solenidades; elegeram os seus representantes locais; assistiram à posse do Dr. José Gregório de Morais Navarro, nomeado juiz do Cível, Crime e Órfãos da vila, e, compenetrados da significação daquele acontecimento, assinaram convictos numerosos autos.
Paracatu do Príncipe era uma povoação perdida nos confins da capitania de Minas Gerais, à margem esquerda do rio que lhe dera o nome, já quase nos limites de Goiás. "Situada sob um belo céu", escreveu um sábio viajante que a visitou pouco depois, "em uma região descoberta, na extremidade de uma planície rodeada de pequenas montanhas, Paracatu não podia deixar de apresentar um ar de alegria estranho a todas as localidades da parte oriental de Minas Gerais, e sua posição adquire maior encanto ainda, aos olhos do viajante, pelo tédio que experimentou por tanto tempo antes de chegar a essa espécie de oásis." Mas, ainda que conservasse esse ar de alegria, com suas ruas largas e pavimentadas e suas casas pequenas com gelosias que avançavam obliquamente para as ruas, Paracatu já não era o eldorado que fora, há bem pouco tempo, quando o ouro se extraía facilmente,