o vinho europeu corria a granel, as procissões e festas de igreja ostentavam riquezas e "os próprios negros, nas suas folganças, espalhavam, dizem, ouro em pó sobre a cabeleira de suas melhores dançarinas."(1) Nota do Autor
O quadro, agora, era outro. Embora não esgotadas completamente as minas de ouro, a exploração se tornara difícil. E o orador sacro, que, então, do púlpito da matriz, elevou a Deus os agradecimentos dos paracatuenses, não se deixou cegar pelo amor à sua terra, quando, sem exagerar, disse achar-se Paracatu "em hum reconcavo de certoens ermos." Nesses sertões, mesmo alguns 30 anos depois, as estradas continuavam péssimas, as passagens, nos rios, sem pontes, e as comunicações lentas e irregulares. Não porque fosse a terra má. Ao contrário, era fértil. E, ainda que as formigas vorazes devastassem corajosamente as plantações de cana, mandioca e de milho, as culturas prosperavam, demonstrando assim a fertilidade da terra e a operosidade dos homens: Paracatu podia vangloriar-se da honestidade e do amor ao trabalho de seus filhos, pois, nela, poucos mendigos e expostos se encontravam. Mas, com toda bondade da terra, riqueza das minas, operosidade dos homens, não passava Paracatu de uma vila com 2.116 habitantes livres, e de horizontes limitadíssimos para todos aqueles que aspirassem a mais alguma coisa do que matar formigas, plantar mandioca e pulverizar de ouro as cabeças encarapinhadas das dançarinas. Muitos anos depois, em 1826, segundo um documento da época, a instrução era rudimentar ainda, existindo dois professores públicos que lecionavam 120 alunos, dos quais apenas 15 iam além das primeiras letras e chegavam à gramática latina. Isso mesmo sem método, irregularmente, porque "os estudantes levam muitos anos em aprender a ler e escrever; e mais ainda a Gramática". Em geral era o pároco quem ensinava aos poucos meninos que ambicionavam