A vida do Visconde do Uruguai (1807-1866) (Paulino Soares de Souza)

noturnas de Lisboa e dos passeios à Feira de Campo Grande vinham-lhe povoar o pensamento.

Paulino devia ter sobressaído nesse meio, não só pelo apuro de sua pessoa, pelos gastos excessivos que fazia, dívidas que contraía, como também pelos versos que compunha e, talvez, recitasse com sucesso. É possível, segundo transparece de um trecho de carta, que, então, ocorresse o seu primeiro romance de amor, que não teria passado afinal de um inocente flirt. Era por este motivo que seus pais pediam, em vão, notícias: não lhe restava tempo para responder às intermináveis cartas de sua mãe. A pobre senhora, se o soubesse com certeza, pois apenas desconfiava, não o teria nunca chamado de negligente e preguiçoso; ao contrário, ficaria contente, pois, no íntimo, todas as mães gostam e se orgulham dos sucessos dos seus filhos, principalmente ela que escrevera: "La meilleur idée qu'une mere puísse avoir d'un fils, je l'ai de toi, et je crois que tu ne tromperas pas mes esperances." O motivo era justo e, também, que Paulino só escrevesse aos seus pais, pedindo-lhes insistentemente dinheiro, pois necessitava retribuir as amabilidades recebidas com presentes que, em 1839, 12 ou 14 anos depois, eram guardados ainda com cuidado.(6) Nota do Autor

Embora suficiente para se manter e comprar cestinhas de costuras, a mesada recebida não comportava presentes melhores, nem, tão pouco, lhe permitia levar a vida que talvez ambicionasse. Ele tenta então resolver o problema das limitadíssimas possibilidades marginais de sua mesada e escreve para casa pintando, em quadros dolorosos, a vida de privações que levava. Ia ao coração do pai, que longe, não podendo ver, mandava, ainda que desconfiado, tudo quanto o filho lhe pedia. Mas não ia o dinheiro sem protestos veementes e conselhos severos: "Je ne peux pas manquer d'observer", escrevia

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