Prefácio
Encetei a elaboração de A democracia coroada, sob a inspiração das mais vivas sugestões liberais. Razões pessoais e razões gerais fizeram-me, a princípio, dar este sentido liberal à obra.
Entre as pessoais, ocupava lugar de destaque o fato de estar, naquele momento, saindo da grande aventura da reconquista democrática, fato que, naturalmente, identificava-me com todos os movimentos libertários. Eram belos dias aqueles, de aurora de liberdade, a anunciar grandes e luminosos dias de sol, muito embora só tivéssemos tido, até agora, neblina e nevoeiro, a prenunciar crepúsculos sem meio-dia.
Além do estado de espírito da época, havia a tradição da influência liberal nos meios literários brasileiros. Como as grandes figuras da cultura brasileira nos últimos anos do Império, as que nos deixaram, por assim dizer, a sua imagem (a começar de Joaquim Nabuco, o que diz tudo), militassem nas fileiras do Partido Liberal, nós, os escritores, até hoje insensivelmente aceitamos pontos de vista, simpatias pessoais, mesmo preconceitos da grei "luzia".
Parti, pois, em grande parte, de pressupostos liberais, antes de iniciar a obra. E a concluí, de certo modo, fiel às posições iniciais, dedicando todo um capítulo aos "ideais do Partido Liberal", sem uma contrapartida conservadora, muito embora conscientemente, a partir de certa época, começasse a considerar a versão conservadora como a autêntica, pelo menos a que dominou, a oficial. Com isto, o livro terminou sendo de cunho nitidamente "saquarema". Ouvi isto da boca de Afonso Arinos de Melo Franco, o que foi surpresa para mim. Depois,