Deodoro: a espada contra o Império Tomo 2 – O galo na torre (Do desterro em Mato Grosso à fundação da República)

Mas que grande espírito e que grande coração o de Deodoro da Fonseca! No curto espaço de três anos ele se elevou duas vezes, águia no heroísmo, pomba na brandura, às culminâncias da glória: - a primeira quando sem sangue a 15 de novembro de 1889 proclamou a República, a segunda quando sem sangue igualmente, a 23 de novembro de 1891, renunciou o seu cargo de primeiro magistrado da nação! Se o sangue brasileiro não correu quando ele expulsou uma dinastia e condenou uma instituição, para que havia ele de derramá-lo se não era contra a pátria e contra a República que a sublevação explodia, mas contra a sua pessoa, contra os erros do seu governo, contra a dominação da sua ditadura?! Apeando-se do poder nesse dia, ele foi tão grande ou maior do que no momento em que por uma escada de ovações subiu para esse posto, de vaidades e despotismos para uns, de dedicações e sacrifícios para ele! Foi ditador certamente - mas quem recusará o seu perdão à ilegalidade de uma ditadura que se estribou na paz, que não fez violências, que não semeou o pânico e o luto, e que embora batizada pelo povo desse nome, que só exprime perseguições e vinganças, esvaiu-se como um crepúsculo elísio, todo anilado de doçura, de paz, de resignação e de amor!"

O pensamento que exprimira Quintino Bocaiúva nesse editorial parecia ser o pensamento de todos. O funeral do velho soldado foi um acontecimento excepcional. Teve um caráter verdadeiramente apoteótico. Antes do enterro, às oito horas da manhã, o féretro fora levado à capela do Visconde da Silva, em Botafogo, onde o padre Belarmino celebrara missa de corpo presente, voltando, em seguida, à câmara ardente da casa do morto, na Rua Senador Vergueiro. Foi daí que, às dez horas da manhã, saiu o enterro. Rui Barbosa e Francisco Glicério faziam parte do grupo que retirou o caixão da sala em que se encontrava e o conduziu através de um trecho da Rua Senador Vergueiro. Na rua, apinhava-se grande multidão, a maior parte da qual acompanhou o esquife, conduzido, à mão, por ilustres personalidades como por homens do povo, rumo ao Campo de Santana. No Largo da Lapa tornou-se difícil a passagem, tal a multidão que ali se comprimia. Uma banda de música da Brigada Policial, saída do Quartel

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