crise, este conflito entre o poder espiritual e temporal em torno do índio e a urgência econômica da terra, está refletido nas diversas Ordens Régias publicadas ao longo dos volumes da Revista do Arquivo Municipal de São Paulo.
Estas considerações mostram de sobejo a complexidade das relações entre as igrejas e a cidade, entre as ordens religiosas e os homens da cidade de São Paulo, e deixam em aberto várias áreas para novas pesquisas e novos estudos sobre a formação da urbe. Procuramos neste livro fixar aqueles aspectos de interesse mais imediato para o conhecimento da história de templos mais característicos, mais intimamente ligados ao desenvolvimento da cidade. Relacionaram-se assim vinte e nove igrejas de origens presas aos séculos XVI, XVII, XVIII, XIX e XX, fazendo-se igualmente ligeiro levantamento daqueles templos mais recentes e que, talvez, do ponto de vista histórico e do tema especifico deste ensaio, tivessem menos interesse dentro da problemática que se propõe ao longo do livro.
Muitas fontes novas aparecem nesta edição, graças a artigos do especialista Fernando Pio, do Recife, e ao memorialista Vivaldo Coaracy em seu importante livro Memórias da Cidade do Rio de Janeiro, onde se percebe que o complexo de interesses entre a Igreja e a cidade não foi um fenômeno exclusivamente paulista, mas geral e predominante nos núcleos urbanos brasileiros que nasceram com a participação, por exemplo, dos jesuítas. Bem se disse, a propósito da História da Companhia de Jesus no Brasil, do padre Serafim Leite, que nessas páginas se encontrava uma outra grande parte da história do Brasil. Inclusive aquela que fixa numerosos aspectos do status social pela expressão religiosa, cada classe, ou semiclasse, quase classe dentro da relatividade das definições e caracterizações dentro do tempo social e histórico, valorizando sua própria igreja, sua própria irmandade. Lembra Francisco de Paula Ferreira de Rezende em Minhas Recordações, que abrangem largo período do século passado, que "os próprios santos dos céus pareciam não pertencer a todos", dado as distinções que se estabeleciam na veneração. O branco do Brasil podia pertencer a todas e quaisquer irmandades, ao passo que negros e mestiços, índios catequizados, pardos, sofriam