da necessidade de catequização. A Câmara reclamava, dizíamos. Foi assim que os "homens bons" de São Paulo enviaram ao Rei, aos 29 de dezembro de 1711 uma carta pedindo providências sobre a situação. Dois anos depois o Rei respondia. Não havia pressa em tomar providências. Diziam os oficiais da Câmara da Vila de São Paulo que os religiosos de "Sam Francisco, Bentos, e do Carmo", após terem entrado na posse da administração das aldeias "dos índios cituados no termo desta mesma vila", usavam os pobres indígenas somente em suas lavouras e mais ainda nas "suas negoçeaçois", conforme a linguagem estropiada e pitoresca da época. Diante disso reivindicava a Câmara a volta da administração das aldeias a "cargo de pessoas seculares, e que este hera o unico remedio que se podia dar ao tal damno". Esta documentação, refletindo um problema que não foi raro na cidade, está publicada no Vol. VII da Revista do Arquivo Municipal de São Paulo.
Os "homens bons" da vila, contudo, não eram nenhuns santarrões, em cujas mãos os indígenas podiam viver tranquilamente. Constituíam os índios a mão de obra disponível para a continuidade do abastecimento da vila e do tráfego comercial com as Gerais. Os moradores tiravam índios das aldeias administradas pelos religiosos com enganos e promessas, estas geralmente não cumpridas. Este processo se tornou tão comum que certa feita, em 1717, o governador da Capitania, D. Pedro de Almeida Portugal baixou bando ordenando a restituição de tais índios "no Convento a que pertencer dentro no termo de Vinte e quatro horas", conforme a redação da época. Nos períodos em que as aldeias não estavam sob a direção de religiosos, ficavam sob administração civil. Estes administradores mantinham o mesmo processo abusando da disponibilidade do índio, tão urgente era a mão de obra para as lavouras. O caso de Izidro Tinoco, contra quem a Infanta de Portugal dirigiu uma carta, condenando-o por tratar "mais do seu proveito do que do estes mizeraveis", é perfeitamente ilustrativo. Mais ainda: tirar índios das aldeias administradas por religiosos chegou a tal ponto que foi preciso ameaçar os moradores da vila com a anulação de suas sesmarias se não obedecessem as determinações reais nesse sentido. Toda esta longa