mesma pena molhada no arco-íris ou nas nuvens do poente que nos conta com alma virgiliana a marcha do cortejo que conduz o caixão mortuário de Anchieta, entre Feritiba e Vitória...
É possível, é provável mesmo, que todas estas cenas tivessem ocorrido de modo diverso, e que essas nuanças de beleza provenham do talento do sr. Celso Vieira. O índio que ele nos dá, magnífico e decorativo, não é o selvagem comum que os portugueses encontraram na plaga americana, mas um ou outro chefe deles, preparado para a guerra ou para as festas rituais da vitória. Da colaboração do seu espírito na ornamentação da narrativa, dá-nos, aliás, ele próprio, o documento, quando descreve e comenta a luta da esquadra de Mem de Sá para desalojar os franceses e indígenas da ilha do Governador.
(...)
É certo que, aqui e ali, temos a impressão de deparar um anacronismo no livro do sr. Celso Vieira. Este é, porém, um escritor tão escrupuloso e bem informado, que eu, em tais casos, prefiro atribuir a minha estranheza à minha própria ignorância, a admitir que a falha seja do autor.(*) Nota do Autor
Trate-se, porém, de lapsos da pena do sr. Celso Vieira ou de erros do meu julgamento, é incontestável que ele nos deu um dos livros mais bem escritos porventura publicados no Brasil. A sua prosa realizou, nele, prodígios de sonoridade. E lembra, em todos os seus capítulos, a obra sinfônica de certos compositores italianos, desses que, ao fim de cada partitura em que embalaram docemente