anátemas, o erotismo, a ganância, a dureza de alma dos velhos colonos ou dos novos mestiços.
Tamoios e tupis, brutos irmãos pelos quais viera de tão longe o missionário, vagavam nas serras nevoentas e distantes... Como trazê-los dos alcantis e das furnas para o Evangelho semeado à orla do mar? Leonardo Nunes converte à sua causa, empolga no seu voo dois homens principais — o eloquente Pedro Correa, o valoroso Manuel Chaves, — exímios sabedores do tupi-guarani, feitos agora noviços e intérpretes da Ordem. Esses homens traduzem o catecismo para os selvagens, propagam nas selvas a lição de Jesus. Incorporam-se à Companhia alguns jovens mestiços, e em breve, sob o teto do seminário, os órfãos vindos de Portugal têm como seus condiscípulos, fraternalmente, os pequenos filhos dos índios, que os entregam aos jesuítas, com eles vêm para a margem do oceano, para a luz do Evangelho.
Se a crença dos missionários era grande, a sua casa era pobre, ainda mais pobre que a terra inculta dos colonos. Os óbolos não cobriam as necessidades do sustento. Leonardo Nunes, então, conjugando o santuário e a oficina, fez da casa de Deus uma escola profissional, do religioso um operário. Era a lei vital de S. Paulo. Forjador incansável, este malhava a bigorna candente, recurvando anzóis, refundindo peças, rebatendo cunhas e facas. Aquele, que nunca fora aprendiz nos ofícios mecânicos, engenhara um torno de pé, onde tornejava como um artífice destro, sem cessar, produzindo incansavelmente rosários e coroas de pau. Outros irmãos teciam alparcas de caragoatá [caraguatá]. Deles havia um, depois sacerdote, que era carpinteiro por instinto, acepilhava por vocação, tendo erigido belos altares, sólidas igrejas. Na risonha pobreza da comunidade primitiva, tecelões e alvanéis, mestres de forja