Anchieta

A humildade em João de Sousa, mártir como Pedro Corrêa, e devotado aos mais baixos ofícios para aniquilar no silêncio de uma perfeição rastejante as vaidades do mundo. A impavidez e a resignação no padre Manuel de Paiva, que se deixava apregoar pelas ruas, sendo um fidalgo, como negro da Ordem, posto à venda, com a mesma impassibilidade ouvia ameaças e injúrias, sendo um atleta, e marchava diante dos soldados portugueses, em combate, alçando a cruz sob nuvens de flechas. A inocência em Domingos Pecorela, servo dos próprios servos, irmão do próprio jumento, que ele ornava e conduzia, retirando-lhe metade da carga para os seus ombros. A obediência no padre Salvador Rodrigues, agonizante, que não ousava morrer, porque lho proibira Manuel da Nóbrega, indo à capitania de S. Vicente, enquanto desse lugar não voltasse ao leito do moribundo. A candidez em Francisco Pires e Diogo Jacome, que findaram após uma vida tormentosa, angelicamente, com o sorriso da graça infantil nos lábios roxeados pela morte. O escrúpulo, a suave e heroica diligência em Gregório Serrão, padre reitor, padre cozinheiro, maravilha de paz e boa vontade nos trabalhos mais rudes, nas doenças mais longas. A predestinação em Antônio Rodrigues, homem d'armas, que venceu a pé 200 léguas, desde o Rio da Prata a S. Vicente, suspirando pelo regresso à Lisboa, e ali foi tocado por um lampejo do céu, entrou na Companhia, subiu de noviço a padre, tendo vivido 14 anos, como doutrinador de feras, construtor de templos. O domínio implacável sobre os apetites rebeldes em Mateus Nogueira, outrora soldado português na África, entre os mouros e os leões, depois soldado e ferreiro no Espírito Santo, afinal introduzido na casa de S. Vicente, como noviço, por Leonardo Nunes.

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