Anchieta

* * *

Ausente, respirando a morte na violência dos combates ferozes e do clima africano, ele fora traído pela mulher, que a sua piedade cristã deixara sobreviver ao pecado. Vindo para o Brasil, acabou o guerreiro, exemplarmente, como religioso, a punir o corpo no seu retiro(183) Nota do Autor, malhar o ferro na sua bigorna. Saíam-lhe das mãos calosas para as dos índios, que o adoravam por esses milagres de forjador, machados, cunhas e foices. Vulcanicamente, revelava Mateus Nogueira o Brasil da idade de ferro ao Brasil da idade de pedra. E o ferreiro-atleta, reverenciado como um ídolo benfeitor, deslumbrava o gentio com o seu poder siderotécnico, as suas dádivas de ferro, ensinando-lhe o catecismo, atraindo-lhe os filhos ao seminário. Manuel da Nóbrega disse uma vez de Mateus Nogueira: "...ferreiro de Jesus Cristo, o qual, posto que com palavras não prega, fá-lo com obras e marteladas"(184) Nota do Autor.

Talhado na robustez de um vasto arcabouço, ele consumiu a rijeza do corpo e sublimou a ardência da alma na forja, na devoção, no cilício. Venceu as tentações da carne a poder de açoites e jejuns. Em 12 anos de esforço e penitência, fundindo as horas de trabalho e as horas de tormento nessa estrepitosa, coruscante obra sideral, Mateus liquidou a sua fortaleza nativa. Quando já não podia ter-se de

Anchieta - Página 402 - Thumb Visualização
Formato
Texto