De braço com o embaixador de Inglaterra, Neuville tentou entrar no paço e foi impedido pela guarda, que apresentou as baionetas. O que aconteceu na escadaria da Bemposta entre o embaixador, em grande uniforme, e o oficial de D. Miguel, a Europa soube-o em breve. Como não permitiam que entrasse para falar ao rei? Porventura não cabia ao Sr. D. João VI dar as ordens sobre o serviço do seu próprio palácio? "Sabei que quem precisa falar ao rei de Portugal é o rei de França, e que, se um filho de rei que erra é perdoado, seus cúmplices são enforcados!" Juntou à palavra a ação. Levou a mão ao espadim, para abrir caminho, mesmo a custo da vida. Porém, diante do gesto, o alferes recuou. O embaixador haveria de parecer um antigo Marialva enfrentando, desdenhoso, uma patuleia trêmula. Representava o passado ressurrecto: brandia a espada da nobreza que vivia esplendidamente o seu último dia... Era o mensageiro do monarca que seis meses depois, agonizante, ouvindo o médico ordenar ao lacaio: "mudai-lhe a camisa", soerguera-se no leito, e protestara: "Mr. le Dr. Portal, je m'appelle Louis XVIII; vous devriez dire: Otez la chemise de Sa Majesté!" E o diplomata, chamarrado d'oiro, a lâmina de corte vibrando no punho, correu a propor a D. João a medida extrema, que era abrigar-se sob uma bandeira estrangeira enquanto o infante não depusesse as armas.
O rei tinha os olhos úmidos e uma atitude desalentada. Aquilo não fora uma revolução, mas