E não somente a motivação do ambiente servirá para o início do estudo da história local, mas ainda a história contemporânea e nacional servirá de incentivo para o percurso pelo passado. Que um filósofo conceba uma linha da evolução humana a partir da pré-história e abrangendo os diversos ciclos da humanidade, é compreensível. Mas que um jovem, que ainda não sabe como funcionam as instituições de seu próprio país, possa considerar "mestra da vida" a descrição das instituições persas e egípcias, é difícil de aceitar. Isso já foi dito por um velho e esquecido historiador português, e com muita propriedade: "Julgou-se que a história do passado anunciaria o futuro, o que era um conceito absurdo, porque não há, nunca houve, nunca haverá na história um fato que integralmente se repita. Disse-se que o passado era a lição do presente, quando o presente é que é lição do passado. Quer dizer que eu, pela história antiga, não fico habilitado a entender a história moderna. Ao contrário, pela história moderna, é que me habilito e entender a história antiga. De maneira que, pedagogicamente, redunda num contrassenso ensinar a história aos rapazes como ela se ensina em toda parte do mundo, isto é, começando-se pelos egípcios, ou pelos gregos e romanos. Quando deveria ser ao invés; dever-se-ia, para ensinar a história de Portugal, por exemplo, fazer a história de Portugal constitucional, nas suas leis, nas suas instituições, na sua vida econômica, moral e religiosa. Fácil seria, então a transição para o Portugal do absolutismo; mostrar-se-lhe-ia com simplicidade a passagem, por exemplo, da propriedade parcelarizada atual para o anterior regime de contrato, da herança igual pelos filhos para o privilégio dos morgados etc. Ir-se-ia do conhecido para o desconhecido e seguir-se-ia do desconhecido próximo, mais acessível, por mais semelhante, para o desconhecido remoto, menos acessível, por menos parecido. Agora, como se faz? Põe-se em frente do aluno, de chofre, a república romana, dê-se o caso. Que acontece? Que o estudante, para entender alguma coisa, tem de imaginar forçosamente o mundo romano à laia do mundo atual português que ele conhece; e daí derivam erros e incongruências que cumpriria presumir."(20)Nota do Autor