das mais sutis interpretações dos fatos a fim de justificar os crimes que perpetra. Ora em nome da religião, ora a bem da redenção dos oprimidos, ora em nome da Justiça, ora para revide de supostos agravos, o europeu sempre encontra argumentos para dar largas ao incoercível instinto. No tempo de D. João VI presenciava-se, por exemplo, a curiosa atitude dos franceses que professavam adiantados princípios revolucionários, arautos dos direitos do homem e da abolição da escravatura, e simultaneamente praticavam o mais desalmado imperialismo colonial.

Este espírito insanavelmente predatório, colidia com o dos americanos, muito diverso graças à largueza oferecida por um continente quase despovoado em princípios do século 19, onde, mais do que guerras de conquista, interessava ao primeiro ocupante atrair colaboradores e consagrar todos os recursos no desbravamento da terra. Continuavam certos característicos impostos aos americanos pelo complexo criador que nunca abandona o homem, mormente ao imitador da civilização do Ocidente, modificados, todavia, e a expandir-se em forma muito diversa das usuais além-mar. Nos Estados Unidos registrava-se rush para o Oeste, conquista territorial que se exercia, no entanto, sobre extensões praticamente desertas, longe de se parecerem com a poeira de nações a constituir o solo europeu, periodicamente convulsionados por tentativas de anexações violentas, ou com o Império dos Incas que os espanhóis no século 16 destruíram. No sul do continente ocorreu, sem dúvida, o lamentável surto de caudilhismo platino(19), Nota do Autor fruto mais de ambições pessoais que de aspirações populares. Explicava-se, contudo, pela desordem provocada pelo subitâneo fim de um regime odioso, que por longo tempo impediu no povo a formação de consciência democrática.