Thomas Ender, pintor austríaco na corte de D.João VI no Rio de Janeiro: um episódio da formação da classe dirigente brasileira,

Europa. Tratava-se nada menos que do tal acervo, composto de desenhos feitos no Brasil de 1817 a 1818. A notícia despertou, como era de esperar, alvoroço entre os interessados em documentação sobre história pátria, de que veio à luz artigo de Aureliano Leite no Diário Nacional de S. Paulo, enaltecendo o valor da descoberta. Infelizmente a segunda guerra universal, a confusão e os males que pelo mundo espalhou, as barreiras que maléficas ideologias elevaram à expansão da cultura - barreiras tão calamitosas quanto os antigos nacionalismos causadores da primeira conflagração - dificultavam buscas em arquivos. Sabia-se que Ender estivera no Brasil e fora autor de algumas das vistas do atlas de Pohl e também das constantes no atlas de Martius. Sabia-se de meia dúzia de obras suas expostas numa exposição em Viena há vários anos. Sabia-se de um pequeno álbum de apontamentos de viagem do mesmo artista, que nos oferecera o livreiro Hans Kraus de Viena (hoje em New York) e por nós fora cedido à Biblioteca Nacional a pedido de seu diretor Rodolfo Garcia, mas afora a vaga comunicação do médico Lindenberg, jazia o resto imerso em dúvidas sobre o número e valor. Sequer era conhecido ao certo o seu paradeiro, devia estar em Viena, dizia-se, e não era possível conseguir mais pormenores a respeito.

Passados anos, recentemente teve oportunidade o Prof. Pietro Maria Bardi, diretor do Museu de Arte de S. Paulo, de ouvir em Nova York comunicação do Dr. Siegfried Freyberg, da Akademie d. b. Künste de Viena, o qual se prontificou exibir a coleção Ender no Brasil. Posto não se tenha realizado logo o projeto como Bardi desejava, conseguimos as principais vistas desenhadas pelo artista na sua viagem a S. Paulo e Rio de Janeiro. Inútil encarecer o extraordinário interesse que representam como complemento dos álbuns de Debret e Rugendas, e principalmente à vista da valiosíssima contribuição que trazem à paupérrima iconografia paulista.

Antigamente não dispúnhamos de quase nada, porquanto a situação geográfica da capitania, os obstáculos

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