Thomas Ender, pintor austríaco na corte de D.João VI no Rio de Janeiro: um episódio da formação da classe dirigente brasileira,

demasiadamente amante de sossego, quando a Espanha vizinha ardia em discórdias capazes de novamente revolver o mundo. Longe imaginaria estar o diplomata a caminho de completo insucesso. Não só nada conseguiu no sentido que mais preocupava Metternich, como ainda deixaria péssima impressão de si nas condições em que se encontrou, falto de meios depois de despender todos os recursos no casarão emprestado no Rio por indicação de Paulo Fernandes Viana, e na instalação no mesmo do séquito da embaixada especial. Daí por diante, teve de se submeter a rigorosas economias, acabando por solicitar vultoso empréstimo pessoal ao governo português, malogro tanto mais pungente em comparação da magnificência do Marquês de Marialva em Viena, provido de fartos recursos fornecidos pelo erário luso e seu próprio bolso.

O remanescente da comitiva de D. Leopoldina, oficial, semioficial e extraoficial, embarcou nos navios de guerra austríacos postos à sua disposição. Ender seguiu num deles, pertencente à série de vasos recentemente lançados ao mar em Veneza. Era ótimo barco para a época, construído com muito cuidado pela engenharia que merecera gabos até de ingleses e norte-americanos. Reconheciam estes peritos, possuidores dos mais velozes veleiros do mundo, a qualidade das naves saídas daqueles estaleiros, chamando-lhes fine vessels e às vezes very fine, como se exprimiu o traficante José Cliffe perante Gladstone no inquérito do Parlamento Britânico sobre tráfico negreiro(7). Nota do Autor

Atrasos decorrentes da navegação permitiram a Ender desenhar, como foi dito, as ruínas romanas de Pola, ainda em tempo de remeter os desenhos para Viena em vésperas de prosseguir viagem. Daí por diante, correu melhor a travessia do Mediterrâneo, com escala mais demorada em Gibraltar. Era a mais importante até chegar ao Rio, ativo mercado de gêneros vindos dos quatro cantos do mundo,

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