uma série ininterrupta de edições e que é o mais formoso e útil instrumento para os que visam a apreender o fenômeno de Rui na vida republicana. Aí se abastecem com segurança os estudiosos.
Os trabalhos que se seguem, não obedecendo a nenhum plano, são aparentemente díspares. Procuram promover um exame mais atento das famosas contradições de Rui Barbosa - que já constituíram o título de um panfleto que fez época - e que não passam de reações diversas no tempo, movidas por um contínuo sentimento profundo de liberdade. Não é possível combater com as mesmas armas e visando ao mesmo alvo, adversários que atacam de posições diversas. Um estudo isento e sério da imensa mole de escritos ruianos impressiona precisamente pela sinceridade das ideias nos combates, tão diversas, e em terrenos tão diferentes.
Em todas domina primacialmente o espírito apologético. Rui é acima de tudo um advogado. As qualidades mestras de sua inteligência são a memória e a dialética. O principal objeto de sua defesa é ele próprio, continuamente perseguido e atacado. Sonhou um Brasil sem escravos, liberto de governos opressores e de forças econômicas dominadoras e localistas. Quis transformar uma nação "essencialmente agrícola" num grande empório industrial, que elaborasse a matéria-prima que exportávamos e comprávamos ao estrangeiro reelaborada. Para isso quis aparelhar a população através de um ensino específico. Procurou destruir as peias ao surto de progresso que latejava. Nada disso teria sentido se paralelamente o cidadão não gozasse das garantias inerentes à democracia: garantias civis, econômicas e religiosas. Lutou em várias frentes e, às vezes, com aparência contraditória. Mas quem se imbuiu dos princípios que estão nas fontes de sua formação, acompanha de um ponto de vista superior o curso límpido desta vida tumultuosa, mas não reacionária.
Foi esse o espírito que presidiu a elaboração desses fragmentos. Que o leitor veja neles a ambição do Autor de dar contas, parcialmente, de sua permanência na guarda, por tanto tempo, de um acervo que a nação impediu que se dispersasse e continua recebendo, continuamente, o concurso do povo brasileiro, pela doação de documentos e publicações, mas especialmente pelo calor com que acompanha nosso esforço sincero e patriótico.
Casa de Rui Barbosa, Semana da Pátria, 1977.
AMÉRICO JACOBINA LACOMBE