PREFÁCIO
Cerca de quarenta anos de lida entre livros e papéis de Rui Barbosa, pondo-os em ordem e preparando-lhes a publicação, representam uma existência inteira a serviço do estudo de uma grande personalidade. Daí resultou um cabedal respeitável de conhecimento da intimidade do complexo vulto que ainda hoje é alvo de tão fervoroso debate.
O resultado desse "saber de experiências feito" deveria ser um extenso ensaio biográfico, em que se completassem e retificassem episódios que correm por aí deformados ou inventados. Mas o próprio exercício de "guarda-mor", como se diria outrora, de tão precioso acervo, levou-me a intervir, às vezes improvisada e desajeitadamente, a propósito de uma ou outra comemoração. Deixando um instante o árduo serviço de pôr em ordem papéis dispersos, ou as delícias daquilo que os franceses chamam paperasser, fui levado a assumir a feição de historiógrafo e enfrentar a severa função de expositor, cumprindo os compromissos de sacerdote de Clio.
São fragmentos, dispersos e desconchavados, de obra mais completa que, Deo juvante e livre dos encargos da rotina, procurarei levar a cabo sistematicamente. Quem poderia realizá-la, com as altas qualidades de que era dotado, Batista Pereira, espalhou as gemas de um talento excepcional por um sem-número de trabalhos inconclusos.
O discípulo dileto, João Mangabeira, partindo de uma conferência promovida pela Casa de Rui Barbosa, legou à posteridade importantíssimo e incomparável fragmento de uma apologia política. Outros trabalhos, escritos ao calor de uma devoção fervorosa, mas sem a pesquisa documental, não alcançaram o alvo proposto. Resta, sobranceiro, o estudo de Luís Viana F.°, consagrado por