INTRODUÇÃO
Quem visita hoje as antigas vilas e arraiais de Minas Gerais não deixa de se surpreender com a quantidade de igrejas que ali se encontra e de indagar dos motivos que contribuíram para tantas construções religiosas. Com poucas exceções, foram obras de irmandades e são aqueles monumentos arquitetônicos, com suas esculturas e sua imaginária, que já à primeira vista permitem compreender a importância cultural e social de tais confrarias.
Reunindo determinados grupos da população, uma confraria religiosa apresenta aspectos diversificados, oferecendo boa clivagem para o conhecimento de certos problemas históricos da região e, em certo sentido, de todo o Brasil. Dessas organizações, as de negros oferecem, a nosso ver, redobrado interesse. Congregando os homens de cor, possibilitam o conhecimento do escravo em situação diferente da que lhe é autorizada através de suas relações de trabalho, abrindo caminho para uma abordagem nova.
Dentre as associações de pretos, a mais notória é a de Nossa Senhora do Rosário. Tendo como patrona a mãe do Salvador, foi cara ao catolicismo lusitano e recebeu proteção e privilégio de reis e pontífices. Escudada no terço, devoção sumamente popular, logo se transformou em organização poderosa. No Brasil, passou a ser quase totalmente absorvida pelos negros, restringindo-se com isso as associações de brancos dessa invocação. Divulgadas de norte a sul do país, penetraram o interior com a expansão do povoamento, aparecendo em Minas Gerais quase simultaneamente com os seus primeiros exploradores. Nessa Capitania as irmandades leigas puderam se desenvolver graças à criação rápida de vilas propícias ao seu aparecimento, uma vez que são um fenômeno tipicamente urbano. As riquezas minerais, criando uma civilização relativamente apurada, assim como a proibição pela Coroa do estabelecimento de ordens religiosas vão fazer com que essas organizações se divulguem e se desenvolvam, construindo igrejas imponentes e promovendo festividades de vulto.
Das Minas Gerais, uma das regiões de maior interesse é o Distrito Diamantino, que integra as demais áreas de mineração da