O ouro brasileiro e o comércio anglo-português. Uma contribuição aos estudos da economia atlântica no século XVIII

Pinto, depois de curso de História no Brasil, fez pós-graduação na França, trabalhando com professores notáveis, que lhe deram as grandes linhas da moderna historiografia em um sentido que, sobretudo lá, se desenvolveu. Estudou e assimilou a orientação quantificadora, de modo a poder usá-la com êxito, como se dá na difícil questão que se propõe. Temos no seu livro o justo emprego da técnica quantitativa, que não aparece como um fim em si mesma, para elaboração de séries, tabelas e quadros, como se dá em muitos quantificadores que na verdade apresentam uma variante da história narrativa, sem buscar ou sem conseguir uma explicação, sem chegar à História. O método usado pelo insigne historiador permite-lhe obter excelente resultado.

A pesquisa é ampla e original. Para traçar as linhas do comércio anglo-português, e, sobretudo, o volume do ouro obtido no Brasil, o autor trabalhou em arquivos franceses e portugueses, como também em arquivos brasileiros. Valoriza consideravelmente o livro o emprego de uma fonte primária, até então inexplorada, com o seu objetivo: a leitura, nos arquivos franceses, de relatórios, memórias e cartas dos cônsules da França em Portugal, os quais dão notícia do que se passa no país em que trabalham, traçando o quotidiano da política em época de intensas disputas diplomáticas, bem como da vida econômica, com informação sobre as novidades, o que vem das colônias - como o Brasil -, as fortunas e os azares, crises, exportação e importação. Os cônsules falam das entradas do ouro em Portugal, para a fazenda pública ou para os negociantes ou do muito contrabandeado por navios ingleses, que estão sempre no Tejo quando chegam as frotas do Brasil. É um vasto repertório de notícias nunca antes usado com o objetivo do tema. Há também algumas pesquisas em Portugal, na mesma linha. Daí a amplitude do trabalho.

A contar deste livro, o caso do ouro brasileiro, seu vulto e papel - assunto básico da nossa história econômica -, passa a ter entendimento mais amplo e profundo. Já muitas avaliações haviam sido feitas, mesmo no século XVIII, como se vê na memória de José João Teixeira, de 1780, em grande parte seguida por outros estudiosos nos séculos seguintes. Tem-se aqui nova abordagem, baseada em documentos outros, o que valoriza o livro e abre perspectivas para reexame da matéria. Daí poder-se dizer que a obra tem não só amplitude como originalidade.

A publicação do livro de Virgílio Noya Pinto é altamente meritória, pois é raro encontrar contribuições novas: neste, além

 O ouro brasileiro e o comércio anglo-português. Uma contribuição aos estudos da economia atlântica no século XVIII - Página 12 - Thumb Visualização
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