era visivelmente sandeu, mas como tudo serve para aleives, mormente numa época em que na Europa ainda se queimavam energúmenos continuava o suspeitoso Doutel, "e auera três annos que elle denunciante vio em casa de Jorge Fernandes da Pedreneira cristão novo da villa de Olinda... mercador que era de trigo ao dito Joan Diaz estar com huns grilhões nos peis cantando esta cantiga
'corramos hum touro
asi te valga Dio,
contanto que não toque em mi fijo Jacob'
e ouvio dizer pubricamente que por quanto o ditto Joam Diaz descobria as cousas, dos cristãos novos e Judeus elles o fengiam ser doudo e o mettiam em ferros". Como se não bastasse, tinham ainda piores desacatos para com o seu rabi. De uma feita, diz o mesmo denunciante, puseram-no "sobre huma gangorra que he o feixe do lagar daçuquere pera que lhes pregasse da sua lei judaica e por elle o não querer fazer o lançaram em um tanque da calda do açuquere..."
Pelo seu grotesco, percebemos a improcedência da maior parte das acusações, quando não depunham em contrário ao que pretendiam provar, como no episódio da gangorra. Outras pechas eram igualmente atiradas contra o objeto de vinganças, despeitos, ou simples "mexerico", versando singulares desabafos de judeus contra a religião que lhes impunham.