Contudo, podemos concluir, com razão, que um ator da vida real não está constantemente autoconsciente da encenação de seus papéis. As pessoas não são dramatis personae cujas ações são fictícias e inconsequentes, mas participantes de um mundo real de experiências, no qual as apostas são altas e o jogo é para valer. Erving Goffman, escrevendo sobre os perigos de levar longe demais a metáfora dramatúrgica, adverte que "se você organiza um teatro ou uma fábrica de aviões, você precisa destinar lugares para estacionar automóveis e para pendurar casacos, e é bom que sejam lugares reais, sobre os quais, diga-se de passagem, o melhor é fazer um seguro real contra roubo" (1974: 1).
A linguagem e os conceitos do palco são úteis, entretanto, porque o indivíduo comum, como o ator, trabalha no ramo de "impressionar pessoas". Independentemente do fato de só ocasionalmente ele poder estar cônscio da peça que está sendo encenada, esse trabalho não deixa de estar presente. Estimulando o público a concentrar a atenção em alguns aspectos da sua representação, e a desviá-la de outros, o indivíduo, como o ator, anseia por estabelecer uma situação social que seu público possa aceitar como autêntica. Agindo no âmbito de um cenário físico que molda seu comportamento, ele transmite sua mensagem por meio de falas, vestuário, comportamento, complementos e outras mensagens que lhe permitem definir sua situação. Sua atuação é normalmente espontânea apenas porque os papéis que interpreta são habituais, ratificados por vários encontros prévios e parte e parcela de encenações familiares. O próprio fato de sua conduta não ser deliberadamente encenada, entretanto, faz do indivíduo comum um informante precário. A metáfora teatral fornece ao observador um conjunto de conceitos perfeitamente adequados para isolar os atos de comunicação que estabelecem e definem as relações. O êxito da análise dramatúrgica não pode ser, consequentemente, avaliado pela consciência das pessoas comuns de estarem encenando uma peça. A abordagem, aqui, não é a de uma teoria psicológica que pretenda mostrar a visão do mundo de seus sujeitos, mas um recurso para apreciar aqueles aspectos - sutis e frequentemente negligenciados - da interação que definem a situação social e confirmam a identidade dos que nela estão engajados.
Na prática, a abordagem dramatúrgica leva nossa atenção para novas direções, focalizando-a nos aspectos expressivos das relações sociais, bem como no seu significado econômico e político. Leva-nos a descrever sutilezas de conduta e de indumentária, normalmente negligenciadas em relatos antropológicos costumeiros.