Somos sempre fortemente pressionados no sentido de aceitar a definição consensual da situação mesmo que ela nos deixe descontentes. Como atores no teatro, não atuamos tal como somos ou como desejaríamos ser, mas como se aceitássemos o papel a nós designado. Entretanto, isso não quer dizer que não haja diferenças fundamentais entre a vida e o palco. Uma dessas diferenças - a alienação do ator de teatro em relação ao papel, alienação que contrasta com o comprometimento e sinceridade do indivíduo comum - tem sido particularmente penosa para o observador dramaturgicamente orientado, e devemos agora lidar diretamente com ela.
Só ocasionalmente um participante da interação comum se sente compelido a assumir a perspectiva do ator no palco. A sociologia de Goffman nos põe diante de pessoas ativas e incansáveis que não podem mostrar sua verdadeira habilidade, vendedores de móveis que enganam os fregueses com uma propaganda extravagante, a respeito de mercadoria de qualidade inferior, e moças que se sentem obrigadas a mostrar-se burras nos encontros, para convencer os namorados de que são femininas. Sheldon Messinger e seus colegas (1962) informam que poucas pessoas, inclusive as muito famosas, e ainda assim apenas raramente, permanecem fora do palco. Como Sammy Davis expressa: "Logo que saio para a frente da minha casa, de manhã, eu estou em cena, papai, eu estou em cena".
A autoconsciência teatral poderá, de tempos em tempos, recair também no grupo dos poucos famosos. A essência da perspectiva dramática, da maneira como foi colocada por Elizabeth Burns (1972: 34), é a composição: o planejamento, a encenação e o arranjo conscientes dos acontecimentos sociais. Cada vez que mudamos a posição dos móveis, decoramos nossas casas, compramos roupa, ou aplicamos cosméticos, estamos movimentando peças do cenário ou vestindo fantasias. Arquitetos, desenhistas de moda e outros engenheiros das aparências e das impressões são, nesse sentido, colegas de equipe de atores, diretores e dramaturgos.
A autoconsciência dramática pode, também, irromper na interação ordinária. Quando assumimos um novo status (o primeiro dia de um novo emprego), quando nossos papéis se chocam ou são indefinidos, quando nos empenhamos em momentos de autorreflexão ou fantasia, adotamos uma perspectiva semelhante à do ator teatral.