2. AS TRIBOS DO ALTO XINGU E OS ÍNDIOS MEHINÁKU
"Fale aos americanos sobre nós. Diga-lhes que nós não somos índios selvagens que abatem gente. Diga-lhes que nós somos bonitos."
Ketepe, para o antropólogo
Os índios mehináku do Brasil central são apenas uma das tribos muito similares que vivem ao longo dos formadores do rio Xingu, um dos grandes tributários do Amazonas. Lá as cachoeiras impedem a navegação e até há pouco tempo afastavam os mais intrépidos exploradores e caçadores. Mesmo agora, a cidade permanente mais próxima, Xavantina, situa-se a aproximadamente 280 km em direção sudeste. Por causa desse isolamento, um pequeno enclave da cultura índia da floresta tropical conseguiu manter-se quase completamente intacto.
A localização desta cultura é limitada por barreiras definidas. Cerca de doze graus para o sul, três rios se encontram para formar o Xingu. Juntamente com seus numerosos tributários eles drenam uma bacia bem irrigada e pouco elevada de aproximadamente 40 mil km2. Ocupando apenas a parte norte desse vasto território, os índios do Xingu exploram várias zonas ecológicas. A primeira é uma estreita faixa de árvores às margens dos rios, árvores cujas raízes se adaptaram às inundações periódicas. Longe dos rios, há planícies de inundação cuja extensão varia de poucos metros a alguns quilômetros de largura. Depois das planícies de inundação, há quilômetros de floresta ao longo de cuja orla, ainda não muito longe dos rios, os índios do Xingu estabeleceram suas aldeias e abriram roças de mandioca. Além da floresta, há outras planícies de inundação, outras faixas de árvores resistentes às inundações e ainda outros rios, como está ilustrado na figura 2.