Mihináku: o drama da vida diária em uma aldeia do Alto Xingu

e sua família. Mais tarde, em 1971 e 1972, voltei sozinho por sete meses, por um mês a mais em dezembro-janeiro de 1974 e, viagem final para conferir meus dados, em maio e junho de 1976. No total, morei na aldeia durante dezoito meses.

Os mehináku foram bons anfitriões. Como outras tribos da área, eles são hospitaleiros; fornecem, regularmente, ao hóspede água, lenha, beiju e um lugar para pendurar a rede. Embora essa hospitalidade formal vá minguando no decorrer de uma visita mais longa, os mehináku sentiam-se contentes por ter-nos entre eles, por motivos tanto de sentimento quanto de interesse. Havíamos trazido para a aldeia centenas de dólares de presentes úteis, que eram periodicamente distribuídos pelo chefe em um grande potlatch; além disso, podíamos proporcionar limitada assistência médica e, eventualmente, servir de intermediários entre os mehináku e as autoridades do Posto.

Nas fases iniciais do trabalho de campo, minha mulher e eu tentamos aprender algo sobre os mehináku, agindo como eles. Todas as manhãs, bem cedo, minha mulher ia para a roça com as outras mulheres. Voltava várias horas depois, carregando à cabeça uma pesada cesta de mandioca, e passava o resto da manhã na pesada tarefa de ralar essa mandioca. Eu saía com os homens para pescar, caçar macacos, ou andar pela floresta em busca de raízes medicinais.

Figura 4. Uma visão mehináku da vida diária na aldeia. Quando Amairi pintou esta cena da comunidade, deteve-se algumas vezes para rir da caracterização feita a respeito da aparência ou do comportamento de um ou outro habitante da aldeia tomado em particular. Diante da "casa dos homens", por exemplo, está Itsa, o pior lutador da aldeia, deitado de costas. Logo à esquerda, vemos Ahira, o mais bem-vestido da aldeia, sendo pintado cuidadosamente com urucu, tão essencial para o ornamento adequado. Contemplando o desenrolar da cena e esperando sua vez de lutar, estão vários homens e meninos sentados no banco em frente à "casa dos homens". Mas note-se, à esquerda, o quanto Epyu está cabisbaixo. Perto das casas das famílias extensas as mulheres terminaram seus trabalhos, tais como o de trazer água do rio, e estão sentadas do lado de fora para catar piolhos umas das outras, conversar sobre os acontecimentos do dia, e assistir às lutas. Sempre brincalhão, um grupo de parentes mais jovens de Amairi transforma uma casa inacabada em aparelhos de fazer ginástica, enquanto Kama, desmancha-prazeres e resmungão, brandindo uma clava, expulsa-os dali. A pintura de Amairi capta a atmosfera e o movimento das atividades próprias da tarde, fazendo-o com deliberado senso de humor.

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