reposteiros, apenas auxiliado por um negro, que tangido pela miséria o abandonou, deixando-o morrer exaurido, em hórridas condições, como narrava Debret, o seu cadáver putrefato num imundo pardieiro; rodeado de galinhas famintas e de esquelético cavalo que comia o capim, do colchão onde jazia o dono.
Dos artistas da Missão em funções, restava no Rio de Janeiro apenas Grandjean de Montigny, que construíra para si aprazível residência na Gávea, dispersos os demais, de regresso à França, mortos ou afastados do ensino pela idade, como também sucedia aos mestres artífices. Expirada em 1834 a licença que o governo brasileiro concedera a Jean Baptiste para temporariamente se ausentar, encarregou o pintor a Araújo Porto Alegre, então de volta ao Rio de Janeiro, de apresentar a sua renúncia do professorado, ao mesmo tempo que recomendava ao ministro Lino Coutinho, com quem estava em boas avenças, o discípulo para lhe suceder na classe de pintura. Daí por diante, Debret permaneceu na casa que adquirira da Rue d'Anjou, atarefado na conclusão do aparecimento do Voyage pittoresque e trabalhos na basílica de St. Denis. Continuava, entretanto, apegado ao Brasil, como no-lo demonstram as suas comunicações ao Institut de France em 1842 e anos seguintes.
Chegava ao fim o governo de Luís Filipe, envolto em injusta impopularidade, apesar do que realizara em benefício do povo francês. O cenário político do reino mostrava-se cada vez mais sombrio, exposta a França a regime republicano: de esquerda ou advento de um Bonaparte, indicado o filho de Luís, ex-rei da Holanda e de Hortência de Beauharnais, para assumir o poder. Ansiavam os Debret e correligionários pela volta do império, finalmente satisfeitos quando o sobrinho do ídolo foi erigido presidente da República, e mais jubilosos ainda se sentiram quando ele não tardou a se proclamar imperador dos franceses, como o tio realizara ao passar de primeiro-cônsul a soberano. O sucesso do imitante desvanecia Debret, que tivera ensejo de presenciar a queda de Luís XVI, subida ao trono de Napoleão e a aclamação de D. João VI no Brasil, seguida da coroação de D. Pedro I.