Amargurado e desvalido, ele ansiava por partir da Place de Thionville, n.° 9, onde habitava, separado da mulher, ferido profundamente pela perda do filho único, rapaz de 20 anos, de quem ele muito esperava. Uma desgraça nunca vem só, agravada pela ausência dos amigos e colegas, a que vinha se juntar o travo da queda de Denon, outrora símbolo da rapina artística nos vizinhos do Império, invocado por A. E. Fragonard quando, na Espanha, repunha os ossos do Cid no ataúde de onde os retirara, a fim de examiná-los e ficar com alguns. Nem herói sepulto há séculos escapava do rapinante (pois o esqueleto podia trazer consigo alguma preciosidade), derrubado o superministro, falto de recursos sonantes para acudir antigos agentes publicitários. Os amigos do pintor — Gay, Duban e Lafontaine — só podiam aumentar-lhe as mágoas, nas mesmas ou piores condições das suas, às voltas com apreensões, muitos obrigados a deixar Paris, desgostosos de se verem alvos de suspeição e com risco de serem perseguidos. Restava apenas o recurso de se aproximar dos senhores da situação, como praticara Géricault, adversário dos davidianos, expediente que jamais ocorreria a Jean Baptiste, transido ao ver David no exílio, anatematizado pelo seu procedimento na Revolução e no Império, em que fora por Debret acompanhado.
A derrota dos restos da Grande Armée, mal auxiliada por recrutas bisonhos, provocou a segunda entrada dos Exércitos aliados em Paris, onde chegavam cheios de ódio contra os franceses. Exigiam toda sorte de concessões, uma das quais dolorosa para os artistas parisienses, consistindo na devolução das preciosidades irregularmente adquiridas expostas no Museu Napoleão. O momento era aterrador para os vencidos. Ameaçavam os prussianos destruir uma das principais pontes do Sena, porque se chamava Iena. Comunicou-lhes Luís XVIII, desta vez unido aos bonapartistas, que se o tentassem mandaria colocar uma cadeira em cima, onde aguardaria a explosão. Entretanto, sobre o Louvre afluíam recuperadores de obras de arte dirigidos por Canova, ex-amante de Paulina Bonaparte, ex-bajulador do corso, ex-aproveitador de sua generosidade, promovido pelos aliados a repercurador-mor e que estadeava