Gilberto Freyre, uma biografia intelectual

Esta é uma biografia intelectual de Gilberto Freyre, não biografia íntima ou política. Psicologia e ideologia aqui só entram em função da posição de Gilberto Freyre na História das Ideias do Brasil. Daí o crescendo até seus anos de formação em universidades dos Estados Unidos, decrescendo em pianíssimo rumo a outra vibração maior no final, quase como numa sonata em palavras. Ajudadas por recordações pessoais minhas desde muito cedo, quando, "ainda menino", lembra-o o próprio Gilberto em testemunho comemorativo dos meus 50 anos, eu frequentava "a casa dos Freyres de Apipucos, como se fosse uma escola" e ele, Freyre, "um instrutor de aprendizes que concordasse em orientar, por puro prazer intelectual". A mim e a uns poucos outros.

Amizade herdade, minha mãe Dulce Chacon, jornalista e professora, chegou a ouvir pioneiras aulas de Gilberto Freyre em Sociologia na Escola Normal de Pernambuco, fins da década de 1920, não tendo sido sua aluna porque saía na época em que ele ingressava. Contemporânea de Clarice Lispector, de procedência israelita ucraniana, há pouco no Recife e antes dela prosseguir ao Rio de Janeiro, ela, sim, discípula de Gilberto, colega de minha mãe, mas em turmas diferentes.

Pelo solar de Apipucos desfilava intelectualmente o mundo de então: Manuel Bandeira, José Lins do Rego, Luís Jardim, Clarival do Prado Valadares, Manuel Diégues Júnior, Jorge de Lima, para só mencionar os que partiam do Recife, os que ficaram são tantos que seria demasiado enumerá-los. E os estrangeiros: Aldous Huxley, John Dos Passos, Robert Lowell, Vitorino Nemésio, Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir, Lucien Febvre e Fernand Braudel, dentre muitos. Com eles falei, menos ou mais longamente, naquelas tertúlias de fim de tarde, o vale do Capibaribe ainda verde diante de nós, antes das invasões imobiliárias, olhado pelas janelas

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