Gilberto Freyre, uma biografia intelectual

Pernambuco, unindo o útil do lucro açucareiro ao agradável da vingança contra a expulsão dos judeus de Portugal e Espanha. Um certo Frei Antônio Rosado, muito sagaz, atinou com a manobra, denunciando que "de Olinda a Olanda não há mais que a mudança de um i em a, e esta Vila de Olinda se há-de mudar em Olanda e há-de ser abrasada por holandeses antes de muitos dias".(4) Nota do Autor

A riqueza era tentadora.

Um dos primeiros cronistas, Gabriel Soares de Souza, descrevia-a, já em 1587, e também advertia: "Desta terra saíram muitos homens ricos para estes reinos que foram à vila muito pobres, com os quais entram cada ano desta capitania quarenta e 50 navios carregados de açúcar e pau-brasil, o qual é o mais fino que se acha em toda costa(...). E parece que será tão rica, e poderosa, donde saem tantos provimentos para estes reinos, que se devia de ter mais conta com a fortificação dela e não consentir que esteja arriscada a um corsário a saquear e a destruir, o que se pode atalhar com pouca despesa e menos trabalho".(5) Nota do Autor

Por não ter sido ouvido Gabriel Soares, cedo se realizou a profecia de Frei Rosado: os flamengos invadiram o Nordeste do Brasil, incendiaram Olinda, autonomizaram e engrandeceram o Recife numa cidade mais próxima aos seus gostos e hábitos, emergindo de um pantanal foz de rios, diante da Olinda lusa encarapitada em colinas. No auge da administração do Governador Conde João Maurício de Nassau-Siegen, um alemão calvinista a serviço da capitalista Companhia das Índias Ocidentais pertencente às protestantes Províncias Unidas dos Países Baixos, naquela fase o Recife recebeu um dos últimos príncipes renascentistas. Que, por isso mesmo, fez construir em Pernambuco jardim botânico, observatório astronômico e conservatório de música.(6) Nota do Autor Neste "mestres e alunos costumavam executar obras dos compositores flamengos".(7) Nota do Autor

O enclave apresentava-se hostil, pelo contraste, diante da dominação luso-espanhola com seus sistemas semifeudais na exploração e exportação agrícolas do Atlântico Sul. Veio enfim a contraofensiva, após 24 anos de presença holandesa transformadora, para sempre, da mentalidade recifense, deixando "no espírito dos nossos antepassados, ideais que mais tarde deveriam fazer explosão", mostra-o Artur Orlando,(8) Nota do Autor um dos membros da Escola do Recife a formar-se em torno do também libertário, a seu modo intelectual, Movimento de Tobias Barreto e Sílvio Romero.

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