Os Preceptores do Menino de Sobrado e o Colégio Americano
Menino de engenho é uma coisa, José Lins do Rego descreveu muito bem os seus sentimentos e as suas circunstâncias em mais de um dos romances do ciclo da cana-de-açúcar, e menino de sobrado outra muito diferente, às vezes menino de ambas as coisas, sobrado e engenho, os pais com casas na cidade e no campo. Gilberto Freyre passará, aos nove anos, temporada no Engenho São Severino do Ramo ou dos Ramos, como também é chamado, santo de muita devoção dos trabalhadores rurais da zona do açúcar, daí tantos se chamarem Severino, de cognome "Biu", e tantas Severinas inclusive a Morte e Vida Severina de João Cabral de Mello Neto. Mas Gilberto Freyre continuará mesmo um menino urbano, recifense, em parte olindense desde que para Olinda tentou fugir aos seis anos...(1) Nota do Autor Fascinava-o a vizinha cidade no alto das colinas.
A avó materna, homônima da mãe, Dona Francisca Teixeira de Mello - merecedora do título de "Dona", feminino de Dom no português antigo, por sua tranquila elegância visível em foto num dos livros do neto - transmitira-lhe primeiro o interesse pela sociedade patriarcal, que, no seu realismo de senhora de engenho, no final das contas tinha sido até agradável para sua classe social.(2) Nota do Autor O falecimento da avó querida é a primeira experiência de Gilberto Freyre com a morte, aos nove anos.
Até quase os oito, o menino Gilberto recusava-se a aprender a ler e a contar, sua inicial rebelião contra os convencionalismos. Preferia devanear, sonhar, meditar nas suas precoces introspecções. O pai procurou alcançá-lo pelo desenho, já naquele tempo um método de socialização intuído pelo humanista e professor Alfredo Freyre. Contratou nada menos que Teles Júnior, consagrado paisagista, para despertar intelectualmente o filho.
O próprio Gilberto descreve a cena: "O aprendiz tinha sete ou oito anos. O mestre, 60 ou 50 e tantos. Marcava-lhe